O tema do Dia Mundial de Cuidados Paliativos para 2017 é: Cobertura Universal de Saúde e Cuidados Paliativos – Não deixe os que estão sofrendo para trás.
Você sabe o que são Cuidados Paliativos? A Organização Mundial de Saúde explica (definição fresquinha de 2017):
“Cuidado paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes (adultos e crianças) e famílias que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Previne e alivia o sofrimento através da identificação precoce,
avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais.” (WHO, 2017)
Conheça abaixo os Princípios de Cuidados Paliativos, para esclarecer quem não sabe o que se faz quando alguém que não sabe o que pode ser feito diz que não há nada a fazer.
Todo sofrimento físico é considerado uma urgência, com seu tratamento composto da utilização de todos os recursos disponíveis para seu alívio. Desta forma é necessário conhecimento técnico qualificado, específico e direcionado para a prescrição lúcida e consciente de medicamentos, medidas não farmacológicas e abordagem dos aspectos psicossociais e espirituais que caracterizam a “dor total”, conceito primeiramente citado por Cicely Saunders, fundadora do St Christopher’s Hospice em Londres. O tratamento dos sintomas de sofrimento físico, emocional, social, familiar e espiritual deve ser impecável, pois todos estes fatores podem contribuir para a exacerbação ou atenuação do sofrimento humano quando diante de uma doença grave que ameaça a continuidade da vida e de sua dignidade.
Os Cuidados Paliativos consideram a possibilidade da morte como um evento natural e esperado na evolução inexorável de uma doença ameaçadora da vida, mas colocam toda a força do trabalho na vida que o paciente deseja e tem condições de viver. Com sentido, significado e valor!
Para deixar muito claro: Cuidado Paliativo NÃO TEM NADA A VER com eutanásia, como muitos ainda pensam pois não sabem absolutamente nada do que são Cuidados Paliativos. Este engano absurdo ainda causa decisões equivocadas quanto à realização de intervenções desnecessárias e a enorme dificuldade em cuidar do que o paciente portador de doença progressiva e incurável realmente precisa!! A decisão de não fazer um procedimento agressivo e desproporcional ao seu benefício não significa interromper a assistência ao paciente e sua família e sim tomar uma decisão lúcida e consciente sobre suas reais necessidades. Uma conversa compassiva e bem clara sobre o diagnóstico bem avaliado, o conhecimento técnico qualificado da história natural da doença, o cuidado atento e ativo, acolhedor e respeitoso e uma relação plena de compaixão e respeito com o paciente e seus familiares é o caminho para a manutenção da dignidade da vida até seu último instante.
Estar doente vai muito alem do que ter uma doença. Todo o universo de sofrimento emocional e espiritual que se revela na consciência de ter uma doença que ameça a continuidade de sua vida proporciona ao paciente e sua família um tempo de dor de “alma” muito intenso. Nosso país tem muitos, profissionais de saúde que não sabem como tratar a dor física, imagine então a insuportável dificuldade que existe em avaliar o medo, a culpa, a solidão, a impotência, a tristeza, a sensação de abandono e tudo o mais que nos invade ao lidar com nosso pequeno grande mundo da finitude de nossa vida. Os Cuidados Paliativos ensinam os profissionais de saúde a lidar, a conversar sobre, a avaliar e saber tratar e cuidar de tudo isso com respeito e compaixão associados ao conhecimento técnico indispensável ao bom resultado de um tratamento dessa importância. Então, se você ou alguém que você ama muito estiver enfrentando uma doença grave e incurável, que ameça a continuidade da sua vida, não hesite: procure alguém que tenha formação reconhecida em Cuidados Paliativos.
O processo cuidadoso de avaliação do sofrimento humano permite que o tratamento proposto para cada uma das suas dimensões possa ser implantado o mais precocemente possível. E permitindo assim que a pessoa com uma doença grave, incurável e que ameaça a continuidade da sua vida possa viver bem tudo o que é possível viver dentro de suas potências e limitações, incluindo sua família e tudo o que tem valor, sentido e significado para a vida de todos os envolvidos. E pode ter certeza: um dia a morte bate na sua porta e te convida a olhar para tudo o que realmente tem importância neste tempo tão breve por aqui.
“O tempo vivido no luto é um tempo que pode se apresenta como uma experiência onde oscilamos entre dois momentos. Em um extremo estamos na experiência de sofrimento pela perda. No. outro extremo estamos na vida nosso dia-a-dia lidando com questões do cotidiano que podem ou não estar relacionadas a perda. No momento da dor vem a tristeza, a vontade de chorar vem o desespero vem a raiva. E esses sentimentos devem ser aceitos e experimentados. Não existe nada de errado em ficar triste e a tristeza é uma experiência necessária para um processo de luto saudável. Não é proibido ficar triste embora a maior parte da sociedade acredite que isso seria impossível e deve ser aceito como normal. É esperado que se fique triste quando se perde uma pessoa muito amada e muito importante para nós. A maioria das pessoas não sabe lidar com a tristeza de quem está perdendo uma pessoa importante e muito menos lidar com a tristeza de quem acabou de perder alguém. Logo se comprometem levar ao médico ou a um psicólogo buscando uma forma de abreviar esse sofrimento. O uso indiscriminado de medicação para esse período de luto pode levar as pessoas a uma anestesia emocional evitando o sentimento de dor, mas ao mesmo tempo que não sentem tristeza também não sentem alegria. Tristeza não é depressão. Nesse tempo de extremos é comum as pessoas se sentirem culpadas por terem motivos e vontade de sorrir no meio de um processo de luto. Eu sempre digo a essas pessoas que se permitam ficar tristes até a última lágrima e que possam se permitir dar risada no meio dessas lagrimas assim que se lembrarem de momentos divertidos vividos junto da pessoa que morreu. Aliás, faz muito bem lembrar de tudo de engraçado que foi vivido. Peço que me contem algum momento assim e rapidamente o sorriso volta. E junto com esse sorriso volta também o amor que sentiam por aquela pessoa. É isso que faz o processo ter leveza e ao mesmo tempo de levar adiante, te dando forças para seguir em busca da saída desta caverna do luto.”
Já está mais do que comprovado que os pacientes que recebem Cuidados Paliativos desde o diagnóstico de uma doença potencialmente fatal têm a possibilidade real de viver mais. Com mais tempo cronológico, mais qualidade de vida, menos depressão e menor quantidade de intervenções agressivas e fúteis, por que não oferecemos esse direito Universal a Dignidade da Vida para todos que precisam?
Precisamos espalhar a importância disso tudo, porque o Brasil oferece Cuidados Paliativos a menos de 0,3% das pessoas que tanto precisam deles.
Cuidados Paliativos para todos: Um direito universal a vida, um direito a dignidade até seu último instante de vida.